she don't want the world.

A brisa daquele fim de dia levava os meus cabelos a sítios distintos. Voavam sem me pedir autorização. Sentiam-se donos de si. Não existia nada além daquele céu estrelado e do entusiasmo do diferente. Aquela noite era diferente. Existiam as pessoas e pouco mais que isso. Pouco mais que tecidos finos, para cobrir corpos que sempre pecaram. Porque é suposto. Porque estavam na altura certa para isso. Também eu quis pecar. Confessei àquele planetário que se erguia diante dos meus olhos, a vontade que eu tinha de ser abraçada. De ser amada como jamais alguém tinha sido. Ninguém me respondeu. O rio ia calmo. As estrelas eram demasiadas e eu não conseguia falar com todas. Chegou alguém para me contar histórias de amor que eu já sei que não existem, mas permiti, era de noite e ninguém ia ser iludido com palavras que todos dizem. Aquelas eram em segredo, porque era de noite e nada além de tecidos finos existia. Deixei que os meus braços fossem aquecidos por um corpo que não me é totalmente estranho, e disse coisas. Disse como se fosse às estrelas. Esperei que o sono se apoderasse de nós e cada um partisse, como irá ser sempre. Como sempre partimos. Estes corpos que se juntam. O sono não quis interromper confissões feitas num silêncio constrangedor. A minha respiração tranquila, o meu olhar para um vazio mais realizado do que nunca, falava por mim. Não foram precisas palavras que confessassem o que eu era. O que sempre quis ser. Quis que fosse notável este meu medo de ser mais, mas não saiu nada. Além de um franzir de testa, e um olhar profundo, com uma pele morena a contrastar com a minha. Olhei inúmeras vezes para as minhas mãos. Só insignificância nelas a que eu pudesse agradecer. Estavam cansadas do sol e prestavam homenagem à noite que finalmente tinha chegado. Passei a mão no teu cabelo duma forma simpática. Queria dizer “Obrigada por estares a ser o planetário, cá em baixo. Tão de perto.” Passei a mão no cabelo para dizer isso. Esperei que o percebesses. Recolhi-me e pensei demasiado nisto. Nisto que é um nada supérfluo bom. Um bom que me assusta e não me permite agradecer-te. Apenas passar a mão no cabelo, e esboçar um sorriso natural, que aspira tranquilidade. Que diz o quanto gosto de ti. O quanto foi bom conseguires seres aquele rio em mim. Um sorriso que demonstra a gratidão, a que eu sinto por quem é um abrigo para mim. Ainda que seja por uma noite.

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