Pego delicadamente na agulha e coloco-a sobre o disco intemporal. Dispo o robe que cai sobre os pés, no chão frio que piso descalça. Fica uma silhueta - apenas uma sombra do desejo.
Abro as portas da casa branca e as janelas - o vento invade-me. Caminho delicadamente ao som da música clássica. Fecho a torneira, passo com cuidado, as unhas tratadas, sobre a água (que cheira a lavanda). Deixo apenas a luz ambiente - duas velas! E entro. Mergulho até ao mais profundo de mim, até a minha essência - numa água também ela cheia de essências - e deixo o ego (é possivel. Por agora.) 
Surge a música e a dança - o teatro e a poesia. Banho-me de arte. Respiro debaixo de água e noto como é gratificante a sensação de se estar vivo - o coração que bate, numa estranha forma de viver de tão atribulada e críptica. Agradeço aos céus e ao Sol, a vida.
Fecho os olhos e deixo apenas o nariz encoberto. Sou demasiado minha - num estado de serenidade assim, profundo assim.

Comentários

Alexandre. disse…
o teu texto fez-me lembrar discos de vini, não sei porquê. like it, *
Janine disse…
"Respiro debaixo de água e noto como é gratificante a sensação de se estar vivo (...) Sou demasiado minha - num estado de serenidade assim, profundo assim."
Das melhores coisas que li nos últimos tempos. Aliás, tudo o que escreveste neste "pedacinho" transmite uma imagem visual fantástica. Parabéns, se é que isso é uma palavra suficiente.
Alexandre. disse…
óh meu love, comprei o teu livro ontem :D amanha ou assim já devo começar a ler! (tempo possível para acabar de ler o que tenho em mãos)

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