Liberdade: só quando acaba o vinho

Na rua silenciosa, sente-se o eflúvio a apelo. Todos gritam por ti – todos gritam por ti. De onde veio esta dor que ninguém entende, e este frio, que não nos pertence? 

A guitarra soa o riff, o amplificador explode, estamos perante a revolução – será que ainda não estamos perante a revolução? 
O cérebro já não pensa. Todo o corpo cai, e o chão estremece. O alcatrão derrete, e a guitarra soa o riff. A bateria toca, as janelas abrem-se, os vidros caiem. De onde veio a incerteza? Já ninguém questiona. Já ninguém te questiona.
Que se enverguem as camisolas negras e se faça luto, exalados num chão, espezinhados por quem nos conquista a casa – e a alma! Roubam-nos a alma. 

Que se larguem as corretes pelo chão que ainda não treme. As gravatas rasgam-se e os saltos altos, são lixo. Ninguém quer jóias. É a revolução – será que ainda não estamos perante a revolução?
A bateria toca mais rápido. O riff mais alto. Não há voz, ninguém tem voz. Os gritos perderam-se em ruas cheias. A letra perdeu-se num bar qualquer, numa noite fria, em que o cérebro já não pensou. Aqui já não há vinho. Nem estupefacientes estúpidos – estupefacientes de miúdos estúpidos. Agora o chão treme. O alcatrão derrete e calam-se as vozes.

Os vidros partem-se. Os pés pisam-nos. Já ninguém questiona. Já ninguém te questiona.
Somos um povo calado. Uma juventude imunda. Um cérebro que há muito deixou de pensar. Já não há vinho. Nem voz. 

Que se cale a guitarra, que se rasgue a gravata. As jóias, são meros acessórios. Que se faça luto perante uma sociedade que se demonstra alheia – que não quer. Que não convém querer.
Recolhem-se os pés cortados, as bocas caladas. Na rua silenciosa, sente-se o eflúvio da ignorância. Pega-se no skate, e finge-se que se tem voz, quando o vinho se esgotar de novo.
Quando a liberdade se esgotar de novo. 

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