Não sei ao certo o que é suposto fazer nestes dias de calor. Nem a música me tem salvo a alma; nem a poesia me tem enchido o peito. Apetece-me estar – estar. Apetece-me não ser companhia de noite; nem par de uma boa dança de salão. Não me apetece ser. Apetece-me estar – estar.

É triste quando já nem o amor chega para nos acalmar a voz, e tudo parecer limpo. Cristal.
Constumo pensar no Pessoa como uma constante, exactamente por entender o conflito interior de não se conseguir uma identidade. (São tantas as possibilidades; são tantas.) O conflito interno da incerteza relativamente a quase tudo. São tantas as possibilidades e tão poucas as oportunidades de decisão.

A cama tem cheirado a vazio, acho que isso me faz sorrir. Gosto tanto da sensação de vazio. Não me assusta. Tenho as histórias de amor em parteleiras a ganhar pó, posso sempre aconchegar-me nelas. Podem ser um bonito porto de abrigo. Quando acabam não nos dói. Não são nossas; não eram minhas. Pedi histórias de amor emprestadas.

Enquanto não existe vontade de ser. Estou. Vou estando. Vou acredito nas mentiras e nos olhos que escondem. Nas palavras que são só palavras. Vou estando. Até ao dia em que já não há vontade para mais; até ao dia em que o estar não chega. 

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