Amores Rápidos
Hoje recebi o esboço para a nova capa do meu livro. É bonito ver um trabalho nosso a ganhar vida, é o segundo, não, é o terceiro trabalho dentro do género que ganha vida num suporte físico. Uma gratificação que supera qualquer coisa. Consigo inclusive deitar-me com uma calma diferente no peito, uma espécie de valorização pessoal. Existe sempre esta certeza relativamente a mim: consigo sempre o que quero. Ainda que olhe a meios para atingir os fins e não me limite a ser egoísta ou demasiado ambiciosa. Só quero algo que me é possível. Por vezes esqueço-me do grande que tenho vindo a ser. Houve tempos que deixei de saber o quão alto estou. (Amor-próprio, que volta sempre, quando realmente somos grandes, e para ser grande já dizia o outro: sê inteiro. Sou sempre inteira.)
Fica um cheirinho do próximo livro:
"Quando chegou a casa tinha flores à porta,
apressou-se a fechar a porta das escadas, e correr até ao tapete onde se
encontrava o presente. Pegou nas rosas rapidamente e procurou o cartão, o
cartão previsível que elas carregavam: «Fui
inteiro, estou aqui, de uma forma efémera, a convidar-te para vires, não sei
para onde: para apenas vires. Fernando (que não é Pessoa)» O mundo caiu, e
o peito também, um peito cheio dele, cheio de flores que encantam, e cheio de
vontade. Um peito pesado – que na verdade, deixou de pesar."
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