Não tenho um império
Esta instabilidade cansa. É triste quando desistimos de
contra-argumentar numa luta com aqueles que pretendemos derrubar. Até isso se
torna aborrecido (recorrendo a um termo prático e comum). Este Sol não ajuda em
nada a manter a cabeça erguida. Queima a vista. Queima as forças. Dá-nos tudo;
tira-nos quase tudo. Não sei ainda o que fica. Fica o amor - sou apologista que
fica sempre o amor independentemente do resto. Depois vem o perdão; a
paciência. Essas coisas que já são cliché na vida que é isto. Que não será
nunca nada para além do que está à vista. Mesmo sendo ávida. Mesmo querendo
mais.
Pego numa lata de
um refrigerante qualquer fresco. Tiro os ténis que escarmentam os pés. Sento-me
no sofá e deixo-me ser consumida pela quantidade absurda de coisas que me
querem comer (coisas - repito) depois, só depois, vem o resto. Um resto que
também me come. É vital existir sobriedade mas os sentimentos compulsivos
tornam-nos insanos não é? Sou insana - inevitavelmente, até a ser comida (porque é que isto soa tão
mal?)
Faz algum tempo
que me descalcei dos politicamente correctos, ainda assim existem coisas que me
excedem. Que ultrapassam a minha mente que obriguei a aumentar - sempre. Depois
vem o meu lado animal. Aquele cujos sentimentos não têm qualquer poder. Não
existe piedade/compreensão/tolerância. Apetece-me partir para a agressão - a
física. (Não gosto da agressão verbal mas em falta de mais, às vezes tem mesmo
de ser.) É o eflúvio ao terreno que pertence a cada um. O instinto animal. O
não olhar a meios para atingir os fins. Isso existe (deixem-se de apelos à singelez
- isto é o que somos. Competitivos.)
Depois execro
aqueles que entram num espaço e se afirmam como defensores de valores
"correctos" (nunca vou compreender como se consegue assumir que existem
valores "correctos". Esse é um campo que depende de mil factores.) Depois execro
aqueles que entram num espaço e se afirmam como defensores de valores
"correctos", repito. Chegam à rua e acham que estamos cá todos para o
mesmo. Quando na verdade não estamos cá todos para o mesmo - somos, na verdade,
todos o mesmo. Como tal é suposto unirmos as forças – mas essa nunca será
a nossa natureza.
Continuo a preferir o meu instinto animal e a
minha postura pouco cínica perante as coisas que defendo. Não sou Rainha; não
tenho sequer um império. Não me apetece competir valores – apetece-me só
destruir muralhas de reinos que os outros insistem em inventar como pouco transparentes
que são.
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