Restos e pedaços


 O crescer é isto que nos dá – e o que nos rouba. A ingenuidade de acreditar que este é o porto-seguro. Entretanto, não existem portos seguros, não existem sequer oportunidades para descansar. Criar um trono e descansar. Existem momentos – sentimentos; existe a oportunidade de partilhar caminhos, ensinar, ser-se ensinado. Amar e perceber que afinal, nunca se amou.
O nosso jardim e as nossas mãos juntas naquele que foi o teu sonho, imortalizaram-se. Na mente – no coração. Seja onde for. Existes em mim agora e não há Marta sem outros mil nomes. E não há nada, além de restos de pessoas, pedações de lugares. Levo-te num sítio quente; amando-te enquanto inconstante, enquanto incerteza. Um amor ao jeito de quem já cresceu, nada de coisas felizes e eternas, nada de metáforas. Uma calma e uma tranquilidade associada a esta coisa de querer (muito) alguém. De (te) querer muito.  
Protecções e superprotecções. O medo de cair e ali ficar, ao abandono. Entretanto já me desapeguei da ideia de existir enquanto múltipla e sou o que sou – o que te quero dar. Sorrisos e bons dias. Comidas que cheiram bem e lugares que não conheces. Para que também tu sejas restos de pessoas, da minha pessoa e pedaços de lugares, alguns que te quero dar. Crescendo e tornando-te inteira. Preenchida e completa. Sem precisares de portos-seguros, além de ti mesma. Para que esta coisa dos encontros e desencontros, para que esta coisa da não eternidade, possa ser igualmente boa, mesmo quando se cresce, mesmo quando os sonhos de amores para sempre não passam da idealizações convenientes para o não nos sentirmos sós. Que seja bom - o resto. Os nossos restos de (outras) pessoas. Os nossos pedaços de (outros) lugares. Crescendo e transformando, nos jardins que forem possíveis, enquanto as nossas mãos se quiserem. Enquanto quisermos ficar. E depois? Depois seremos mais e maiores. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

sobriedade.

Women's Strike (Again!)

ENG EqualiTea - Brazil Agaisnt Bozo (small cut)