penetração lírica
Talvez acreditasses se eu te dissesse que o oceano parou;
que o Sol explodiu e que todas as estrelas que compõem o teu céu, não passavam
de um quadro num tecto velho que cai. Uma casa imunda onde a chuva constrói rios
e as madeiras que chiavam com os teus pequenos pés descalços durante a noite, nadam
num Norte confuso. Com uma bússola partida – uma não bússola e um não Norte.
Acreditarias ainda, que nunca foram memórias tuas que me adormeceram nas noites
em que o coração me saía pela boca?
O tempo é escasso; bem como os encontros e desencontros que
nos formaram rapidamente; – juntar corpos, mas mais. Juntar mais do que corpos.
Dar-te palavras que são minhas – abrir-me; depois resta-me sonhar contigo e com
um piano (ou uma bateria, acho que
preferes assim).
No rio que renasce dos escombros de uma casa que foi tua,
cresce o solo seguro – o porto de abrigo. Como se fossem mantos quentes que te perseguem,
enquanto foges na neve do frio que te gela e te faz esquecer do quão quente és
por dentro. Conto-te histórias sobre uma vida que te esqueces ser tua;
histórias bonitas de pessoas que te abraçam; – imperfeita como és. Como todos
somos. Relembro-te de como é suficiente existir, de como é suficiente amar (poeticamente)
amar.
Talvez acreditasses se eu te dissesse que o oceano parou;
que o Sol explodiu e que todas as estrelas que compõem o teu céu, não passavam
de um quadro num tecto velho que cai. Não acredites no entanto, que não és
grande o suficiente para reconstruir o Universo; seres o mar e o Sol – o planetário
que se ergue no céu de todos. Não te esqueças que é sempre possível ser o céu
de alguém – seres o quente; imperfeita –. Depois és histórias de amor; de (des)amores. Imortalizada em palavras e em livros velhos, numa
biblioteca perdida numa cidade destruída, de pessoas que já cá não estão.
Pedaços de vida e memórias de alguém – mesa-de-cabeceira de cabelos húmidos,
mãos frias – espíritos inquietos. És uma penetração lírica e um orgasmo
cantado; o clímax da felicidade e da companhia – ainda que imperfeita – linda e
lida.
Mesmo quando o oceano pára, quando o Sol explode; mesmo quando descobres que nunca
existiram estrelas – fazes amor. Quente -; (im)perfeita.
Inspiração de uma quase-poetisa como eu.
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