Direções
Consigo adivinhar a distância das
ondas até aos meus pés. Metros que não sabem a nada numa imensidão como esta
que é o mar. Consigo projectar-me enquanto asas que sobrevoam o sal que te
banha o corpo quando deixas – só. Lamentos pela incapacidade de não ser sal; ponderações
sobre a possibilidade de ser navio e navegar-te antes que voes; antes que o
solo não seja ninho e só o céu seja casa. Transpiro músicas em forma de
citações que me cantas – devagar – a medo; em distâncias incalculadas com uma
segurança fingida e uma premeditação antecipada. Depois fugimos com os olhos
destas realidades tapadas com uma areia que nos ferve os pés – que nos rouba as
penas, as asas.
Imagino-me cabana – numa ilha em
forma de presente. Onde os silêncios são os lanches e os fins de tarde são
histórias sobre uma vida que já não importa; que nem era vida – porque o que
nos corre nas veias, é a necessidade de ser singular; porque o que respiramos
são imagens de viagens descalças de pessoas.
Não sei até quando consigo não te
despir de medos; por enquanto, vou-me descobrindo nos pianos que deixas como
sinais de ti. Vou-me procurando nas águas que nos afastam; perdendo nas pessoas
que não te vêem. (Isto é um segredo – não
é?) Conto ao vento sobre ti; imagino que ele mantenha esta ilusão como tal
e que mais tarde, não se lembre que me lavou a cara de possibilidade de alento.
Que me lavou a cara de outros sinais de ti; além dos pianos – marcas registadas
em medo de riqueza. Sinto-me tão capaz que a frustração agarra em mim e
estampa-me como auto-retrato – como porta de entrada; guardo em mim a voz que
te cabe e levo-a até onde houver restos de amanheceres – de nascer do Sol – independentemente
de não conseguires prever de que casa vem ele. Não o adivinhas como Norte; mas eu
adivinho-te como meu Norte.
(deixa cair a bússola – deixa-me cair de vez – se não sou Sul, se não
sou.)
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