pétalas
Deixo que os meus dedos percorram
cada partícula, cada pedaço que te compõe enquanto tela, enquanto sal.
Envolvo-me na tua voz; morosamente – encontro-me no percorrer da tua fuga e no auxílio
que procuras no conforto do seio principal. Transparente da vontade de te ser
mais do que juras – de ser mais do que ensaios falhados de pessoas que crescem
e se esquecem da essência de estar junto a – perto de.
Os acordares vazios lembram-me a
falta que faz a tua pele cigana, a cobrir-me a vontade de fugir dos sonhos –
durmo mais; como se dormir se transformasse num ritual qualquer de afecto e na relatividade
de te tocar. Todo o egoísmo natural que me constrói enquanto sujeita me recorda
o quanto te quero, aumentando progressivamente a necessidade de ti – como se droga fosse; como se poesia fosse. Descalço-me no chão
molhado que perduras em pisar. Vénias e comportamentos estudados na tentativa
de alcançar o clímax de se ser – de se dar. Numa cidade que cheira a amor – que
cheira a ti, procuro-me nas infindas ruas brancas e amarelas; por debaixo de um
Sol que queima, por debaixo de um tecto que foi nosso.
Antecipação e previsão de todas
as cidades que fazem jus a todo este composto lírico, toda uma dança ensaiada
numa sala velha – onde os pianos se transformam em pétalas e onde as janelas se
partem. Revolucionárias e indisciplinadas, um gesto marginal em protesto com a
necessidade de luz – a necessidade de ar; tu – em janelas que se partem. Teço
vestidos que não te parecem – com pétalas que cheiram a mim. Adornos propícios
a uma vida enclausurados. Dedicação visível de amores subordinados. Depois – dançamos.
Enquanto declaro ao mundo que a
tua pulcritude me levou; rasgo-te jardins do corpo e digo que te amo. Como se Gaia
fosses – a eterna deusa – e como se
minha fosses quando nunca - na veradade - o és.
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