sinas

Respiro como se me fosse dada a ausência de som em troca - sinto-me leve. Cheiro a única fragrância certa de restos de vida. Mergulho no único mar que me dá ar suficiente para inspirar mil musas - mil Deusas. Todos os heróis de um país e todos os meus heróis em partículas de água reflectidos. Retratos de restos de corpos que se formaram enquanto autónomos, agora. Danço - perdidamente. A música reflecte-se em mim como as minhas inspirações na água. Castelos de vidro - escadas e lances de filmes imaginados em cabeças onde o sono nunca se instalou. Madrugadas exaustas de preocupações inúteis por ser isto que somos - pouco. Manhãs cheias de pedaços de outros amores, espalhados no chão que me persegue enquanto ritual - depois fujo daqui; da terra que não é Terra, da casa que não é lar - fujo do teu nome rasurado nas paredes sujas, das casas em que nos encontrávamos só uma. 

(Ainda te lembras ? - ou a falta de ti, suga todas essas sensações de valorização?) 

Somos eternos sons de pés descalços em ruas vazias; somos Fénix; mais. Sombras de sons projectadas de janelas onde os tecidos não escondem a vergonha; onde os olhos não escondem o medo. Expostos - expomos-nos, em troca de breves caricias e pressentimentos de felicidade encontrada noutro peito que não o único que nos mantém aqui - vivos; rascunhos de projectos de vida baratos - desvalorização constante do sangue; da geração - da herança. Preciso de casa - de Casa. Tenho-me a mim; falta-me ter-me a mim. Na verdade já não dói; na verdade já não me dói de novo esta falsa solidão que se transforma numa companhia tão mais cheia; tão mais bonita. Não me dói não te ter - a ti e aos restos de ti. O mundo é feito de corajosos; também eu sou feita de espíritos de cavalos de guerra. Não me rendo - respeito todas as tentativas de desculpa por ser-se outro e outro, tudo - menos nós próprios; mas não me rendo. Eventualmente afogo-me na música que me corta o ar e me dá réstia de esperança no teu verde; eventualmente encontro-me nos traços da tua mão, uma breve passagem; uma bonita e correcta passagem - nas linhas da tua mão. 

(Se te pedirem para te ler a sina - vai dizer-lhes que já me leste a mim.)

ao som de: Castle of Glass - Linkin Park

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