Tropeços
Sobre a luz intensa da cidade que
me escalda, avista-se a noite imensa – mas não eterna. Oportunidades recusadas
sobre a forma de receio disfarçado em conversas extensas e faladas à pressa. Não
tão à pressa quanto esta muito visível vontade de (deixa-se em aberto). Companhias mútuas e o frio que arrefecia o
corpo, da mesma forma que a hesitação arrefecia a alma. Todos os pequenos
detalhes de todas as pequenas coisas – fugas constantes ao inevitável –
adiável, apenas. Mortes projectadas por um estatuto não possível de pessoas
possíveis – de sentimentos ainda mais possíveis que as pessoas. O inteiro; a
lua e o sol. A rapidez com que os minutos fogem entre os dedos que te agarram
num imaginário longe; num mundo mais pequeno, mais longe das tuas não-possibilidades; a escassez do tempo e o tropeço constante nas frases não
acabadas por serem proibidas. Eventualmente a fuga idealizada acontece inconscientemente, sobre a
forma de necessidade. Ou então – sou-te a lua e o sol; as noites frias e os amanheceres
demasiado quentes. Uma constante – não me lembro da última vez que acreditei
piedosamente numa possibilidade tão concreta; em projectos tão bonitos. Na
verdade – reconheço-me agora enquanto eu, genuinamente – não uma encenação
improvisada nas noites em que ninguém é ninguém; ninguém é de ninguém. Um todo – que anseia e que despreza simultaneamente. Instável;
desequilibrada. – (beijinhos no ombro)
– Quero ler-te histórias de pessoas felizes; ser uma história,
de nós – pessoas felizes.
(Ou então – os escombros duma casa; de novo – de novo.
Se não conseguires não ter medo de mim.)
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