Desvarios

Não vês que este meu desvario se dá unicamente por não saber o cheiro do teu perfume - além daquele presente nas noites em que não se dorme; o de cansaço. Não vês que esta demência é nome próprio de todas as manhãs em que não te esqueço e vais ficando imortalizada numa projecção intocável - inodora; escultura trabalhada durante um sono supostamente profundo. Vou-te imaginando enquanto miragem, enquanto certeza de não amanhas, não nadas - além dos ses que se espalham daqui, aí - nos nossos chãos cor-de-rosas.

Perco-me na quantidade de estrelas que faltam no meu céu - perco-me na impossibilidade de ser astro visível aí, tão longe; consegues ler-me no céu? Consegues ler-me - pura? Acho que podia escrever livros sobre os olhos que carregas e sobre o sorriso com que me destróis o mundo em bocadinhos. Podias ser encantada - retratada minuciosamente pelas canetas que guardo em sítios especiais; para ocasiões igualmente especiais. Conjunções perfeitas para descrever o indescritível. E depois? Depois do Sol aquecer a cabeça; depois dos mares já não serem protecções. Depois, quando o Universo parar de te escrever nas mãos o óbvio - algum dia serei moldura de uma entrada mágica, de uma vida no limiar do constante medo? 

Observo como se desconstroem os passos que dás; como a vida resolve tornar isto felizes coincidências de músicas que são mensagens e imagens que são registos na nossa pele - sim, nossa. Observo como caminhas cega; como vais abrindo devagar os olhos - esses olhos - eventualmente percebes que o meu nome está escrito em mais sítios do que nas tuas insónias, nos teus sonhos inquietos. Que as moléculas e os átomos - que a poesia e os poetas - resolveram fazer de nós - musical. 

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