Incoerências nos limiares

Não gosto destas distâncias palpáveis. Objecções constantes à capacidade de enlace visível nos rumos que decidimos ter como certos. Embrulho-me na dicção com que relatas o não querer ir e resguardo-me enquanto pequena e assustada - enquanto pequena. Acho que todas as composições, todas as inspirações que resultaram em notas costuradas minuciosamente, conseguem projectar-nos num céu privado. Desencadeamos explosões no peito - desencadeamos chuvas de estrelas não acessíveis aos incompreensíveis. 

Entretanto prometo-te em tom de conversa invasiva de uma forma subentendida, que nada deste pequeno segredo, será revelado. Não me permitiria cair de um precipício, ao fim de lutar para que me fosse liberado atravessar os céus sobre uma pequena corda construída com o teu nome - as tuas impossibilidades relatadas num discurso rápido, que foge - ou fugia. Acho que existe um cume a poucos passos - sei que o limiar entre a queda e a possibilidade de chão nos pés, de terra-a-terra, não está tão longe quanto a distância a que te pinto, agora que foste. 

Estas marcas que registei na pele - consciente ou inconscientemente - nestes escassos dias em que foste caminhos e rumos, recordam-me o entoar de quase promessas. Recordam-me a constante hesitação rumo ao inadiável. Marcas de tradições a que assistis-te; ou outras - que quis partilhar, por serem visíveis e óbvias. Tenho-te enquanto memória na mão que já não é linear por eu ser - como sabes - pouco atenta. Tenho-te na outra mão - enquanto a melhor companhia para construção de pedaços de mim que encontro por aí - por aqui. Em bancos com pessoas que se distinguem do que é comum. Carrego-te nos pequenos gestos que me construíram enquanto singular, agora que me conheces além dos pressupostos e dos desencontros comigo mesma, visíveis nas manhãs em que não me recordo de onde me deixei. 

Por fim, sei que vou fazer tudo bem. Ordenação coerente, registada em mim como se mais nada houvesse de tão certo. Vou construir muros em torno deste segredo, até que os possa saltar vezes incontáveis que estes não desmoronam. Vou caminhando silenciosamente nessa vida que levas - concentrada no facto de existires além de impossibilidades. Vou-te escrevendo, para que não possamos morrer desta nostalgia que transpiro desde o acordar. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

sobriedade.

Women's Strike (Again!)

ENG EqualiTea - Brazil Agaisnt Bozo (small cut)