Não sei mas é de ti - é de ti.

"Entre o teu anel de prata / E todo o ouro do mundo / Escolheria o que é teu / Não hesitava um segundo"



Não sei;

Não sei se é do teu não jeito de ser transparente - o balbuciar palavras em troco de nada além de fugas programadas, tão bonitas. Não sei se é da forma mágica com que os ventos te cantam os cabelos – e me cantam os teus desamores - mas é de ti, é de ti. Não sei se é das sombras que projectas em torno de cada sonho em que me desenhas cuidadosamente, delicadamente – placabilidade inerente dos que sabem amar. Não sei se é da minha necessidade extrema de te encher com todos os adjectivos que encontro nessa arte marginal dos que gostam, restos de tintas que reflectem a loucura do querer, nas paredes das eternas cidades - mas é de ti, é de ti. Não sei se é do teu sorriso, que me engole em planos acreditados como concretos, atingíveis, possíveis e alcançáveis. Não sei se é do teu sorriso, que me engole e me despe – estende-me nesta rua deserta onde nos tornamos Universo. Não sei se é da forma como destróis a minha Lisboa e lhe roubas o brilho, quando partes.Também não sei se são as tuas mãos, que me oferecem a capacidade de acreditar que não há mal em haver alguém além de mim – que isso não significa que não me queira – mas é de ti, é de ti. Não sei se é uma simples cumplicidade hormonal, se os teus impulsos se tornaram um íman poético, que me fazem escrever-te cartas sem fim. Não sei se é a possibilidade de segredo eterno, de viagens reflectidas no teu brilho sempre que finjo que não me és Espanca e Pessoa, unos.

Mas sei;

Sei que o teu não jeito de ser transparente – o balbuciar palavras em troco de nada além de fugas programadas, tão bonitas – tornou as impossibilidades em mistérios, tornou o vulgar humano em desejo imenso de te desvendar. Sei que a forma mágica com que os ventos te cantam os cabelos – e me cantam os teus desamores – me lembra o som do mar quando forma compassos suficientes para melodias eternas, orquestras em tom de ti, hipnose apaixonada pelo descrever da tua voz. Sei que as sombras que projectas em torno de cada sonho em que me desejas – são sombras que me constroem enquanto capaz, enquanto arquitecta das palavras e poetisa das acções. Sei que a minha necessidade extrema de te encher com todos os adjectivos pressupostos ao amor, deve-se à capacidade de descobrir em ti imperfeições dignas de suspiros, descuidos tão bonitos quanto é possível descrever a bonitez (é de ti – é sempre, de ti.) Sei que o teu sorriso, que me engole em planos acreditados como concretos – também me rasga a alma e penetra em mim esta imensa e intensa vontade de te dar todos os mundos, em frases gastas, em faltas de ti. Sei que quando destróis Lisboa e lhe roubas o brilho - a culpa não é tua, é só o meu não saber de ver o teu caminhar nesta minha calçada. Sei que as tuas mãos, que me oferecem a capacidade de acreditar que não há mal em haver alguém além de mim, são as mesmas que me relembram a cada anoitecer que existe amor, que existe uma delicadeza que flutua nos verbos conjugados para lá da primeira pessoa, são as mãos que me seguram das impossibilidades. Sei que a cumplicidade hormonal é das mais bonitas influências neste processo de te querer e consequentemente, te descrever com um carinho íntimo no meu respirar-te. Também sei que a possibilidade de segredo eterno, de viagens reflectidas no teu brilho, sempre que finjo que não me és Espanca e Pessoa – dão me inspiração suficiente para ser eu heterónimos mil, poetisa perdida, autodestruição romantizada – amante possivelmente esquecida em folhas onde tento gloriar o teu brilho ou o teu cantar com os olhos de quem me imagina além de frases. 

Mas – é de ti, esta vontade descontrolada e impulsiva de cuspir pressupostos e metáforas num português escasso. De ser incansável. Insónias experimentadas por quem deixou que o mar fosse terra, por quem deixou que a água queima-se. Mundos do avesso - quando a loucura invade o peito e se chama à trovoada - saudades de ti. Insónias pintadas nessa tela que carregas no peito, onde me desconstróis e me desvendas, para além de cenas encenadas à pressa. Não sei se sou rascunhos – mas sei que és título deste livro que escrevo. Entretanto, descrevo-te os meus não saberes para que não me esqueças - relembrando que sei, que é de ti - é de ti.    

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