Tons de cereja

Admiro-te e saboreio-te eu enquanto criança, tu enquanto cereja; enquanto Verão em tons de fogo. Chamas que me ardem na boca, doces – como tu; enquanto cereja, enquanto fogo de Verão. Subo a tua casa à procura de mais do que uma amostra do vermelho que mal me preenche os lábios e reparo que és a única que me resta; que eras a única – a manchar-me o vestido em tons de sangue. Depois da queda do cimo da cerejeira – perco o vestido; perco a inocência – deixas de ser cereja; deixo de ser criança.

Acho que perdi o Verão nas mãos rasgadas de poesia, perdi-te a ti – no meio do meu não jeito de falar e dizer coisas bonitas. O meu não jeito de não ser rapariga; não ser tranças e unhas enfeitadas com a cor do nascer do Sol. Rosas que espalho na tua sombra – vento que sopro para te refrescar os pés. Os caminhos cor de Outono vão enfeitando o cesto cheio de ti e fingem-me que o calor que mata – já foi. A exasperação que permanece depois de tentativas falhadas de ser água no teu pescoço; saciar a sede que te prende nessa terra distante – deserta; de mim – de tudo.

Não há nada que me tape nesta ribeira onde costumas molhar os cabelos; não há verdade que me afaste da sensação de te ter em mim. Refresco-me cautelosamente – como fui habituada a ver nos filmes antigos, de meninas que mentem – as que fogem por amor. Indumentárias típicas para descrever a ingenuidade que me aquece o corpo e me faz escrever-te coisas sem mais nenhuma intenção se não a de te fazer um bocadinho mais feliz.


Esputo para o chão o caroço da cereja que foste tu; na tentativa que cresçam mais – que o meu jardim seja um romance – cor de fogo, cor de sangue – cor de ti. Que da minha janela branco sujo, consiga ver o infinito a tomar forma. Depois dispo o avental – visto o vestido manchado da impureza que nos imaginas. 

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