Nárnia

Não sei se conhecem o cheiro a caramelo que vem com o vento. O cheiro a caramelo que vem juntamente com a certeza de recordações concretas e palpáveis. Perdemos o pouco tempo que temos a dar importância aos tropeços neste chão onde nunca reinam os pés descalços. Acho que consigo sentir fugir-me entre os dedos as possibilidades de amar para lá do óbvio e do suposto. Cavam-se covas para as acções que não são previamente aceites e é lá que se vive o resto da vida. Em julgamentos constantes por aqueles onde reina a importância de viver vidas alheias. Pelo desinteresse inerente das mentes pobres. Não é por isso que a felicidade é quase inatingível? Por existirem sempre rasteiras nos percursos que à partida, só dizem respeito a quem decide caminhar em vez de se albergar a uma vida débil. Vive-se mentiras abstractas e disfarçadas pela conveniência dos terceiros com a desculpa do que manda a norma e os bons costumes.


Este abrigo que me acolhe é quase tão pequeno como essas cómodas onde guardam as ninharias populares que tendem a ficar. Heranças fracas e gastas. Tradições comuns para quem não consegue desapegar-se do previamente construído, por dar demasiado trabalho ser-se arquitecto da própria vida. Sonho libertar-me deste sítio que me sufoca – que me diz o que devo ou não fazer com quem quero ou não quero. Vou rasgando este cheiro a mofo que se instalou como meu companheiro, suportando o peso de ser tão poeta, como Mulher; suportando o peso das vidas que sobem a tornos predispostas a reinar sobre povos que resolveram desenvolver-se – desapegos desses costumes fracos. Eventualmente, de mão dada com a minha poesia de cabelos cor de camomila, sairei destas quatro paredes com marcas de guerra – possivelmente, de milhões de guerreiros iguais a mim. Não faz mal – não estamos sozinhas. Os padrões que registam nesse vosso embuço, serão espectadores na fila da frente desta revolução do amor, com a possibilidade de criação de um novo conceito sobre a definição de ser-se nós próprios em vez de ditadores constantes de uma moral que nem sequer se põe em prática nesse peito que se esqueceram de encher com os cheiros e as cores da vida. Estou cansada dos cinzentos que as pessoas que me dizem, vestem. Não me peçam que faça continuamente parte dessa vossa tendência de programar as vidas que não me são se não companhias de percurso. Aprendizagem. Se me virem e me lerem livres desse peso constante de corresponder à ditadura de se ser pessoa, percebem quantas cores carrego na alma.

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