Escrevi-te - porque te sabia!

(mas agora já não te sei mais) 

Escrevo-te sabendo a forma atenta como vais deslizar o olhar rapidamente nas minhas palavras à procura de rastos de ti no que tenho para gritar ao mundo, nesse gesto todo trapalhão e desajeitado que te pinta. Sabes que te sei – sabes que adivinho cada vez que abres os olhos e ficam do tamanho de ti, porque queres muito algo e não o sabes dizer em palavras. Ficas com o olhar suspenso e vazio à procura de abraços que eventualmente chegam. Suspiras – por conseguires o meu quente sem teres que usar a tua incapacidade de relatar desejos, de narrar histórias de ti, dedicada. Tento encontrar os motivos para esta entrega visível desde a primeira oportunidade – não encontro se não frios na barriga e uma espécie de fuga fácil para um refúgio planeado com os tocares escondidos. Escrevo-nos nas paredes cor de insónias, enquanto citações breves que acabam com os teus: nada fugazes, esses em que te escondes cada vez que é preciso teres mais do que um olhar perfeitamente desenhado como uma anã vermelha. Explodes-me – por seres assim; a Pessoa mais Pessoa; a Mulher mais Mulher. Escrevo-te sabendo a forma atenta como vais querer saber tudo o que te tenho a dizer para rapidamente me vires dizer: és linda. Como quando desvias o olhar trapaceiro por te ser difícil enfrentar estes mundos que não são palpáveis, que quase nunca te foram reais. Sabes que te sei – que sei como cada vez que queres algo demoras a decidir. Por te ser difícil o poder de decisão – por quereres dar esse mimo ao outro; o de escolher. Sei como vais sempre falar muito, como vais dizer: não digo mais nada - e logo a seguir, tens mil e uma coisa para acresentar. Como vais olhar para o comer atenta antes de dares início à refeição – como vais avaliar minuciosamente tudo, à procura da possibilidade de desviares o que não queres, depois sorris e comes feliz. Sei como vais querer sempre jantar lá fora, pelo ar fresco que não torna o momento tão difícil, pela noite que te agarra e te leva nem que seja um bocadinho – depois voltas, olhas para mim com uma pele que perdeu a tensão e a respiração é visivelmente mais calma. Vais querer sempre comer lá fora, pelo cigarro no fim – sei-te, como quando o acendes e relaxas os ombros e encostas as costas na cadeira numa tentativa de dizer: este é o meu momento – e eu fico calada, observo-te a fumares como se uma necessidade fosse de te isolares, de te veres por dentro. Como quando és vaidosa com o cabelo que brilha mais que o Sol e me aquece mais que este Verão sem fim – também és vaidosa por dentro. Vês-te e avalias-te, tentas melhorar-te a cada conselho. Sei como vais ficar sempre envergonhada quando eu te disser que és a Mulher mais bonita; como vais parar de respirar quando te disser que te quero no meu amanhã; como te vais rir de cada vez que eu ficar tão irritada com alguma coisa que começo a dizer todas as asneiras do mundo – depois vais passar a mão na minha e dizer: calmaEscrevo-te porque te sei; porque só escrevo sobre o que sei e hoje sei mais além de mim – sei-te. Descobri-te no azul do início e perdi-te nos ares quentes com vidas por debaixo dos nossos pés. Entretanto desenho-te neste quadro de Primavera enquanto imagem de força usada para esconder essa tua necessidade de seres também Rainha (és a maior certeza d’amar, de amar, de mar.) És a (minha) maior certeza, digo-o como quando desvias a cara à procura de um ponto de fuga nessas fotografias que te compõem a vida e dizes: vais ver como sou capaz. E és – sempre.

20/Agosto/2013

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