(Não) responsável (só) por quem cativas

Somos aparências. Somos rasgões de medos, chagas desenhadas com faca e tesoura – aparências. Presumíveis passos em falso nestas pontes que nos atravessam a vida. Acho que esses jardins que retractamos quando viajamos mentalmente e onde a força e a vitalidade predominam, são miragens – uma escassez, limitado ao existente. Neste desequilíbrio emocional e no meu jeito desajeitado de tentar mudar o mundo, acabo na varanda da vida e no limiar entre o conforto e o abismo, a pentear os cabelos como se não me queimassem os pés esses fogos que plantaram na Terra. Já não me recordo a última vez que me perdi por debaixo destes focos (desfocados); existe um hábito disfarçado de sentimentos fortes e alguma perturbação emocional – um hábito de fazer ver que se é o que nunca se foi. Talvez (e só – talvez) por isso é que os espelhos da vida de cada um têm uma imagem baça da realidade bonita de outros. Aparências. Cálculo que o meu escalão social e o meu escalão emocional não sejam os pré-requisitos para a felicidade terrena. Os castings para ocupar o lugar de poeta-não-frustrada têm sido ocupados por outros que por algum motivo, venderam a alma ao Diabo. Talvez devesse delinear um plano e arquitectar uma fuga deste meu Eu tão transparente. Somos aparências. Momentos desenhados – na tentativa errada de se repetirem os bons costumes e haver um “feliz para sempre” estampado na testa da vida – como se ela fosse parva. Não me lembro quando foi a ultima vez que magoei alguém só porque sim – como os comuns dos mortais têm por costume. Essa necessidade exposta de sobreposição. Essa sensação inerente do conceito de Pessoa. E estes meus rasgões; e estas cicatrizes por curar numa pele pálida e frágil, são provas óbvias de uma capacidade excepcional de se viver, vivendo – entregando; sem medos;– sem querer ser Mais do que a dádiva de já poder Ser – existir. Não somos responsáveis por quem cativamos – somos responsáveis por nos cativarmos a nós próprios – missão cumprida, seremos Pessoas responsáveis o suficiente para cuidar do outro, cativando-o, ou não. Porque somos iguais – porque somos feitos (todos) do mesmo.









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