escarras (não) poéticas
Desenhas-te no vento que te leva – rodopios em forma de sombras e quadras que não se
enquadram nesse tom de pele. Culpas a fé; a pouca sorte – culpas a vida de não
viveres e os desamores do não saberes amar. Apontas o dedo – enquanto três se
apontam para ti. Rasgas o tempo; com medo que ele te rasgue a voz. Comes o pão
que o Diabo amassou – rogas pragas a quem te diz que o Diabo, és tu.
Não
sei quem te disse que eras luz invicta; não sei que te fala – quando não és. Os
candeeiros da cidade quente iluminam-te os passos enquanto passas e te desfazes
da rua – na rua.
Esses
adornos de puta fácil que vestes para agradar corvos – retractam-te enquanto reflexo
imundo da alma que levas; do cheiro a podre que carregas – do fel e do mel;
como te cantas e desencantas; como enganas – como a culpa da miséria de seres
tu é de quem te tentou ler e fugiu. Apontas
o dedo – enquanto três se apontam para ti.
Decoras
as veias e à noite; meia-noite – perante as plateias – despes-te. Pintas os
olhos e os altos e baixos do teu corpo na sonoridade dos altos e baixos dos teus
dias. Culpas o enredo, escarras para cima de quem te escreveu a merda da vida –
afogaste; na saliva d’ti.

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