Masturbação mental
As
quatro horas do relógio da tua parede em ruínas, assinalam mais uma ressaca
mental e uma partida sem aviso. Esqueces-te sempre dos bilhetes molhados que
guardas no casaco caro desses dias cheios de outros. Perdi a conta aos
infinitos comboios que perdes-te pela escassa vontade de ires – sejas quem
fores; não tens face nem tens nome. Sei que o telefone vai tocando numa
tentativa falhada de te fazerem chegar espécies de sentimentos em palavras
gastas e rascas. Sozinha neste meu aconchego de uma vida feita, vou observando
a rapidez com que voltas e a vagareza com que vais. Já nem sei quantas vidas
carregas na pasta - nem quantos números te encontram – todas as estações; todas
as vezes que foges.
Vou
bordando cuidadosamente estes tecidos com que vestes o corpo – onde te escondes
de quem és e te transformas em fragmentos de quem te é conveniente. Malabarismos
de uma vida e masturbações fáceis – sem dó.
As
não horas do relógio da tua parede em ruínas, assinalam mais uma masturbação
mental e uma chegada presumível. Vais e vens – vais-te e vens-te – poeticamente
e de uma forma elaborada; esmiuçada cuidadosamente para que as interpretações
não fujam ao constructo em que danças e ao altar em que te crias. Queimas os
bilhetes molhados do orvalho impuro em que te deitas e rejeitas as chamadas dos
que te pintaram d’oiro. Sozinha neste meu aconchego de uma vida feita, vou
observando a rapidez com que não és e a vagareza com que te descobres –
enquanto te perdes; enquanto te escondes.
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