Invidere
Atacam-te os pulmões na
esperança inoportuna que o ar não se dissipe e permaneça como uma massa espessa. Na falta de coragem erguem-se bandeiras que declaram
inevitavelmente guerra – a guerra dos corpos cansados e cansativos que procuram
possibilidades nas infinitas incapacidades de sobrevalorização. Somos muitos –
muitos mil.
Vou deixando cair o véu
da Lua e a veste de Vénus – o Universo transforma-se em duas ou três
gargalhadas um suspiro e palavras sagradas desencontradas com as acções desajeitadas
da futilidade alheia. Joga-se à bola na rua da infância e às vidas na avenida
de um crescimento. Vão-se construindo cidades submersas nos pequenos pés dos
anões da sabedoria; vão-se destruindo cidades mergulhadas no sangue do esforço
pela independência pessoal. Somos muitos – muitos mil.
Cidadãos e sociedades –
supostos amigos e amizades. Batalhas em torno do Trono; paz disfarçada de
politicamente correctos. Paciência esgotada nos esgotos da cidade rápida – da aldeia
constante. Sou muitos – muitos mil.
Descrevi em palavras
loucas e gestos trémulos a insanidade que conseguia possuir-me e desenhei no
rosto de quem rouba verdades, a loucura de quem sonha ser só. Sou muitos –
muitos mil. Danço nos varões da vida, nua – não existem cartas de julgamentos
de quem expõe e de quem se expõe. Danço vestida nesta corda bamba que me
balança entre o que me faz rir e o que faz rir.
Protejo-me e transformo
os meus ossos em provas de bala; aço que não pesa, cor de pena e de penas.
Abraço-me fundo e cuspo a falta de mim em que vos revejo; vidas e mentiras,
mentiras e vidas – livros abertos com entre linhas que não se lêem a contrastar
com a bravura de se criticar e de apontar dedos. Aponto pistolas – aponto palavras
certeiras que matam o que há de escondido na falsa habilidade de respirar vida
alheia.
No fundo do Mar – na falta
de amar; no alto do Céu e na certeza do que é meu – sou muitos – muitos mais
que mil.
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