Riptide.
A
sensação de bater com o dedo mindinho do pé nessas esquinas que surgem de
mundos desenhados à pressa – sem equilíbrios, sem arquitecturas bonitas e com o
desejo inevitável de que possa doer – é o que mais custa. Ao lado disso, toda a
dor interior é semelhante a um clima tropical. Imprevisível. Vai e vem – uma maré,
um vulcão. Senão e se não – se sim, o sim é mais calmo. As areias que magoam os
olhos escrevem cartas para as moradas de quem ama – e a brisa do mar manda
lembranças serenas aos que optam por fugir ao fatal – cair de abismos por amor.
No
meio de todos os contornos – o que custa na vida - não é se não o que é incontornável.
Toda a procrastinação cega a possibilidade de lutar contra o que não é nosso.
Estas bagagens que entram no porão dos corajosos revestem-se de armaduras. Mil
e uma. As outras malas de mão são desesperadamente pontapeadas para fora dum
mundo que só serve para quem se ergue. Quem grita. Quem luta. Quem vive a
libertação dos pressupostos e ama – genuinamente.
O
que (me) custa na vida – é observar
tropeços premeditados de pessoas que eram Pessoas mas que se entregaram a
gente. Nestas multidões de biliões de caras e biliões de mãos dispostas a serem
casas – a ponte só serve de aconchego a quem se cega. Chagas. Casas. Mãos.
Pessoas que são gente e gente que se perde na multidão.
O
chá das cinco invade-me as sestas oportunas, e os pensamentos rápidos sobre
esses julgamentos previsíveis são colocados numa caixa. Escrevo nela, com uma
caneta de remedos – não abrir – e o
que custa na vida, o que (me) custa na vida, permanece numa garagem onde os
sonhos não chegam. Cheira a fraqueza ali; cheira a falta de coragem para se ser
bravo. O tempo não pára. As oportunidades não regressam. As pessoas fogem. O Eu
constroem-se sobre pretextos bonitos e laços de quase para sempre. A vida d’outros continua sobre a veste de fatos de
super-heróis. Metade de um mundo por salvar – a outra metade, por descobrir.
Não há tempo para lamentos.
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