Abortos esporádicos
De todas as vezes que os genes se desenvolvem e estes nascimentos são transformados em planos palpáveis, as sombras dessas vidas que já não te vestem, são agulhas no peito. Engravido de possibilidades e de frases fantásticas de impossibilidades que idealizamos enquanto concretizáveis. Abortos esporádicos e espontâneos. Vomito-te poesias fracas em vez de lágrimas - como fui treinada.
A frieza que me reveste não é se não uma espada afiada que te penetra a pele e te rasga os pulmões. Antes - era o golpe perfeito. O teatro final. A máscara que cai. Porque não eras se não ingénua nos momentos que te projectavas como grandes feitos e proezas. Dois passos - três passos pensados antes dessas rebeldias típicas de quem não agarra o amor. Mas eu corria mais rápido - faster, faster. Impossibilitava o clímax da mágoa de me pintar a face de vitórias - era o mau, eu era o mau escondido. Ria por dentro - uma criança. Ridícula. Acho que o aprendi nos programas fáceis dos canais genéricos. Como se a vingança fosse uma medalha de ouro. Ou então - uma forma pequena de ser Grande - grande.
Agora quero reconstruir-me - com uma comunicação madura e uma postura adulta. Como me sinto. Como o meu coração se sente. Adulto. Agora quero reconstruir-nos - com uma base cor de Jasmim. Como tu. Como o meu coração te sente. Mas os palcos - os palcos dos teatros que encenavas, revestem-se de flores da última cena. Espectadores que esperam por mais. Insaciáveis. Levam-me a força - levam-me a fé.
Não existem orações suficientes para parar os abortos espontâneos desta gravidez d'Nós. Se fosse Senhora do Destino, oferecia-te o livro da nossa vida, com pequenos pés nas páginas em branco. Salpicos de molhos de jantares surpresas. Cheiros mistos dos sítios mil em que te descreveria. Como não sou se não pequena - uma pequena muito Grande Senhora de nada - nadas, ofereço-te aquilo que te fui; e que tencionei ser de coração cheio. Nada de encenações ou projeções de finais rápidos. Transparente. Genuína. Com um coração ferido e uma barriga cheia de abortos poéticos - esporádicos; espontâneos, faço rezas de berços cheios de histórias em que te registei Grande. Uma Mãe grande - uma Mulher ainda maior.
Comentários