Fecho todas as portas de casa. Tranco-me na maneira desajeitada de estar perto - sem estar. Vejo-te com uma clareza indescritível. Com uma suavidade demasiado bonita. Por detrás de toda essa postura encontro-te. Encontro-me. Vou juntando os restos que me deixas e preenchendo o que falta com as palavras que me dás nos poemas que não te pertencem. Somos incógnitas perceptíveis.
Pelo menos desta forma posso usar as palavras que quero - sem medo que sejam demasiado óbvias. Sem medo que me pareçam sempre excessivas e merecedoras de uma (não) resposta. Pelo menos aqui estou abrigada por proteções inevitáveis. Não me quero abrigar - não queria.
Se conseguisses pelo menos entender-me, saberias que te consigo ver para além do que parece linear. Para além do que te é confortável. E as noites que fossem dias - e os dias que fossem meses. Que o tempo não fosse escasso e que a nossa indiferença perante factos não fosse ridícula. Todas as despedidas me parecem forçadas. Quero sempre ficar. Acho que tenho sempre medo que não existam mais amanhãs ou que me escapes entre os dedos sem que nunca tenhas sido de facto vida nas minhas mãos - suspiro.
Se conseguisses pelo menos entender-me, saberias que nada dessa tua personalidade extravagante me assusta. Vejo em ti histórias d'amor; vejo em ti a falta de histórias d'amor. Mesmo quando me fazes querer parecer que não existe nada em ti. Mesmo quando eu consigo perceber que tens um mundo no lugar do peito.
Comentários