Feminismos (meus) de cada dia. Todos os dias.
As decisões que tomo têm sempre em conta o que sou.
Que sou Mulher. Pode não ser muito – ainda que seja – mas é meu. Não tomei
consciência que estava a saltar. Só dei conta que o topo do mundo é de facto real
quando o salto foi suficientemente alto. Não é necessariamente bonita a paisagem
mas é mais construtiva. C(r)e(s)ci. Não cresci o suficiente para estar nos
outros topos, de outros mundos – para os entender. O que cresci só me dá a possibilidade
de saber que existem mas nunca de os viver. Que somos pessoas distintas com
experiências diferentes e que essas diferenças são cruciais no nosso percurso.
As decisões que tomo têm sempre em conta o que sou.
Que sou Mulher. Pode e é muito. O meu muito. Encarar o que me descreve
socialmente é mais que muito. Quando escrevo sobre a necessidade de
reconstrução escrevo sobre a minha necessidade de reconstrução. Quando escrevo
sobre a minha necessidade de reconstrução, escrevo sobre a necessidade de
reconstrução de outras pessoas. A minha liberdade só começa quando outrxs
aceitarem que tenho direito a ela – até lá, vai começando.
Não é um texto informativo nem fala dos privilégios
descaradamente. É um texto preparado para quem os conhece. Para quem sabe que
os mundos d’outrxs nos são inalcançáveis e vivê-los é ler quem os descreve. É
absorver a beleza de relatos. E este texto podia ser um relato meu – e é, em
parte – mas é mais uma homenagem ao meu salto. Seria impossível alcançar o
amor-próprio e o outro – o que não é só próprio, se não existissem ferramentas
que são Pessoas e Pessoas que são ferramentas.
Reconhecendo-me enquanto uma eterna aprendiz, vou
homenageado o que guardo. O discurso que atinjo. O medo que deixo de ter. Vou
homenageado a capacidade de identificar os buracos sociais e os contornar –
mesmo que de saltos altos, se me apetecer. Crescer é ser o que me apetece.
Quando me apetece. Da forma que me apetece. Não pedir desculpa por existir. Por
ser eu. Por não querer ouvir tudo o que me dizem. A minha vida só a mim me
pertencer na totalidade e (sentem-se)
nem toda a gente tem consciência disso. É por isso que hoje escrevo uma
homenagem - pela não necessidade de homenagear. Agradecer a quem não precisa de
agradecimentos. Não é uma tarefa fácil calçar os sapatos de outrxs quando nem
usamos os mesmos números mas é um exercício que tenho praticado e com o qual me
tenho sentido cada vez mais confortável. Saber o meu lugar – que são todos
quanto consigo explorar.
Devagar vou dando murros ao patriarcado numa irreverência que se calhar choca. Que é criticada. Que me afasta de coisas –
enquanto me aproxima de outras. Vou dando murros ao patriarcado de unhas mal
pintadas e com uma postura que se calhar não é bem-vinda. A parte boa é que o
meu salto me ensinou que nunca vou precisar de convite.
Comentários