Todos os 25 de Abril
Na leveza de se ser quase livre, os agradecimentos só me parecem escassos. O crime público e o assassinato do bom-senso são aquelas conversas de elogios ao antes. "Antigamente é que era." Não se medem as palavras. Quando as bocas se calavam. Os olhares se recolhiam. A prisão da vida era se estar vivo. Não se medem as palavras. Parece-me muita imprudência falar de uma revolução na qual não tive um papel activo - da qual não tive sequer um papel. Mas é-me, de igual forma comovente, saber que existe quem se levante. Uma família de classe baixa que a viveu. Que só teve coisas - outras coisas - quando os cravos foram o céu. Quando a coragem, foi a vitória. Hoje sou pássaros de gaiolas abertas. Sou músicas - acessos e informação. Todos os agradecimentos me parecem escassos. Mas o vermelho veste-me o sangue; o peito - a leveza da quase liberdade.
Que a revolução tenha sido de todes para todes - todes os géneros. Cores. Posições. Escolhas. Vontades. Que não se elimine a revolta, fazendo dela selectiva. Que não se menospreze a vontade de liberdade retirando-a de outres. Que sejamos vinte e cinco de Abril - todos os dias. Relembrando a necessidade de expressão de cada ser. Ser mais. Mais respeito. Mais humildade. Mais abertura. Mais capacidade de interajuda.
Somos cravos que nunca morreram. Que renascem nos corpos de quem quer respirar. Suspirar. Amar. Somos cravos eternos. Escassos agradecimentos. Oportunidades de quem não se conformou. Filhes de revoluções - responsáveis por agarrar todo o vermelho e fazer dele, cor da nossa própria vida. Respeito. Humildade. Mais abertura. Mais capacidade de interajuda. Canções de vitória. Cravos que nunca morreram.
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