A Bíblia nos meus ovários.
A fé transformada numa massa de destruição. Invadem as vidas que não lhes pertencem; chocam as Mulheres que a ninguém pertencem. Todes na entrada das clinicas. Todes na entrada do livre arbítrio. Arrancam da coragem a possiblidade; arrancam do íntimo de cada uma a sua privacidade. Mãe; Davas uma linda mãe. - Filhes de Deus; filhes de uma mentira. E nós - filhas de uma sociedade patriarcal. Nunca donas de nós.
O policiamento do corpo; o policiamento, de facto, que nos tenta calar. Hoje desligaram-nos os microfones na tentativa de nos silenciar. A voz é a dada a quem a usa para traumatizar. Chocar. Escrevem a bíblia nos meus ovários. Fazem-nos tatuagens de uma crença. De abortos espontâneos de ignorância. Somos todes fetos que fedem imposições. Obrigações. E não há aqui nada de bonito. Uma entrada de uma clinica - terços. Rezas. Gritos. Mãe; Davas uma linda mãe. Criadas para reproduzir; para se calarem. Crescem para serem constantemente alvo de piadas fáceis. Proibições. Crescem; crescemos; sujeitas a tomar uma decisão e essa ser alvo de um julgamento tão doente que pode influenciar aquilo que decidimos ser melhor. Terços. Rezas. Gritos.
A minha emoção tão transparente não escondeu o contentamento da união de pessoas pelo direito a escolher; mas não escondeu de igual forma o choque de ver Mulheres a serem agarradas. Ameaçadas; com base numa crença que não lhes pertence. Carregam no ventre um principio d'alguém. Carregam no ventre o peso de ser Mulher; de não ter voz.
Que as imagens se façam concretas na minha cabeça; que nunca perca a noção da importância de ser corpo presente; voz assídua; Mulher que é Pessoa. Quando temos pessoas perante nós a sujeitar alguém a uma humilhação; quando assistimos a uma enorme falta de respeito. Quando nos apercebemos que os nossos descontos não nos privam de recorrer ao Sistema Nacional de Saúde, de forma segura. Quando tudo isto se une - o pano cai. Não - ainda não existe igualdade. Não - não é tolerável nem sequer suportável ignorar uma invasão de tamanha gravidade. Quando tudo isto se une - o espelho cai. Já não somos reflexos. Somos a guerra - somos a paz. Somos feministas com voz; Mulheres com direito de escolha. Pessoas, que podem não ser filhas de Deus mas que são certamente filhas de uma sociedade hipócrita.
Mais fotografias: Pro-Choice
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