Descolagem
A descolagem tem sempre um tom calmo. Como o amor. Amar, é fazer uma descolagem para um sítio novo - um mundo novo, inevitavelmente associado a um abandono momentâneo. O avião começa a tremer e a potência é traduzida no gesto de deixar o chão. O corpo voa contra o banco. Somos projectadxs pelas expectativas de uma viagem nova. Aprendizes de amar e novatxs na concretização do amor no plurar. Toda uma experiência que enriquece a nossa construção enquanto pessoas românticas - ou não. Nesta viagem que se une a uma simultaneidade de nunca partir, não existe quem esteja a pilotar, conduzir ou orientar. Somos responsáveis pela concretização com sucesso de nos fazermos chegar onde queremos ir. Aprendizes. Novatxs. Eternxs amadorxs de sentimentos e de sensações. De cima, a vista é organizada. As nuvens parecem algodão doce e o chão parece desenhado com uma perfeição doente. Exacta. As vidas ficam ali; debaixo dos meus pés. Debaixo do meu vasto amor. Não existe prioridade para quem escreve. A poesia não é pretexto para um destino alcançado de forma mais rápida. Mais óbvia. A arte não é argumento; não tem benefícios. Só a arte de quem dá sem se dar. Só a arte de quem espera, pacientemente. Somos viagens e descolagens. Somos amores que nos projectam para fora do Espaço e não há espaço para errar. O ritual de conhecer; o ritual de entrega - é um projecto organizado como a exactidão do Mundo debaixo de mim. Somos algodão doce que sabe a Céu - somos o Céu num todo, sem espaço para todos excepto no Espaço de quem ama.
Fotografia: 11/06/2015 - Lisboa, Portugal
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