teoricamente, irreversível

Fecha a porta assim que saíres - Não voltes sem verbos. Não voltes, sem gestos. De todas as vezes que vens - Eu fico. Só fico. Eternamente. As palavras chegam; A tua imagem, chega-me. Volta, sem verbos. Volta, sem gestos. Fica. Eu fico. Não tenho voz, não tenho magia. Sou amor. Sou restos platônicos de mais um dia. E no quente da casa, no escuro do quarto, somos previsões e antecipações. Sou amante e figurante de uma distância que me afoga o peito - me abraça o peito. Na complexidade de me declarar, tropeço nos silêncios. Fico. Só fico. Tropeço nos espaços em que não somos nada; só nós sabemos distinguir o que se vê. O que se ouve. 

Sei que a minha palavra é fumo que se dissipa com os sopros do Mundo. Sei que não existe nada concreto na promessa de Primavera. Quando rasgo as veias na procura de mais romance subliminar, só encontro construções óbvias do que quero. De que te quero. Depois, as palavras não são metamorfoses. E se conseguisse - ficavas. Só ficavas.  

No meio de toda a minha postura adulta; no meio de toda a minha capacidade de conseguir o que quero - fingir que consigo o que quero, vou rastejando nas impossibilidades e incapacidades. Lamentando. E todas as manhãs são uma espera interminável. Restos de tarde que costuram, delicadamente, o sítio onde me deito em ti. As horas não chegam. Os dias nunca me parecem suficientes com tanto engasgo romântico.  

Vou-me acostumando a não ter mais; não ser mais. Fecho a porta sempre que vou sair. Não volto - só com verbos. Só com gestos. E parecem-me sempre demais. Parecem-me sempre formas sufocantes de dizer que quero adormecer, contigo. É só falta de jeito - depois tropeço nas estações em que te imagino. Nas línguas em que te escrevo. Nas línguas - em que não te falo. 

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