O silêncio acaba a entrelaçar as mãos com a sensação de um fim. Um qualquer. A bagagem espalhada no chão e a armadura a arder. Sou feita de desconstruções, constelações - sou feita de cimentos cinzentos e cinzentos os dias. Absorvendo a inevitável diferença, escrevo sobre a busca da minha identidade. A constante procura de palavras mais especificas e pessoas que não façam doer. Vocabulários de quem não ama - ortografia de quem morre por amor. Sou suspiros. Paradoxos. As tardes são vazias; no corpo fica a certeza de uma solidão planeada. Na alma fica a certeza de não existirem muitos amanhãs. Enquanto o tempo é Tempo e a Vida não é vida, transpiro as cores das Estações. Sou uma prosa fraca; poesia de quem não é poeta e música de quem não dança. Sou os restos de ninguém - o tudo abstrato de todos.
Enquanto me descrevo recorrendo a adjetivos fáceis - minto. No estômago uma revolta e no coração, flor que não brota. Jardins sem corpos; Corpos sem amor. Sou a união do prazer quando o único prazer é não existir união. Vestidos que se despem por serem prisões e Prisões de Pessoas que vivem d'amar. Alimento a sede de fé - afogo-me na fonte que de água, só tem a chuva. Sou o clima. Sou a injustiça de se ser justa.
A bagagem foi pisada e a armadura é cinza. A desconstrução e a constelação pintam-me, bonita - desejável. Para lá das cortinas, o espelho do quarto só me parece inimigo da minha existência. E a minha existência - uma piada fácil.
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