Sou ansiosa e depressiva – não sou mimada, sou doente



Não são muitos os dias nem são muitas as horas em que me lembro de mim num todo, mas quando acontece a esperança surge e durante esse tempo limitado eu sou um todo feliz.


Tenho problemas de ansiedade e depressão expecto que não são problemas, são doenças. Então: sou doente, tenho depressão e ansiedade e esta não é uma apresentação estilo alcoólicos anónimos embora não existisse qualquer problema se fosse. Esta é a minha apresentação individual – não sou mimada nem exagerada, tenho uma doença, ou duas, que faz com que o meu cérebro se esqueça de ser feliz. Sim, o meu cérebro devido ao processo hormonal que a depressão incapacita, não sabe ser feliz. Não existe preguiça na depressão, existem explicações cientificas para perceber o desenrolar da doença.

Hoje pedi a uma amiga para lhe ligar – expliquei que estava a ter uma recaída e com recaída eu quero dizer que hoje o meu cérebro está um bocadinho mais perdido que ontem ou que o mês passado. Expliquei as minhas razões – da forma mais racional que consegui – e ouvi várias vezes o que eu, armada em esperta, tanto sugiro: dedica tempo a ti; ama-te; pensa mais em ti. Ouvi todas as frases que eu corro com o dedo no ar para dizer, mas direcionadas a mim (sou eternamente grata por isto ter acontecido).

Já pedi várias vezes desculpa pelo meu cérebro não saber ser feliz em momentos em que devia sentir-me feliz – já não peço. Ninguém que é incapaz de andar pede desculpa por não se conseguir levantar de uma cadeira de rodas e chegar ao cimo do móvel, nem tem que pedir. Eu também não tenho que pedir desculpa ou sentir-me culpada por não conseguir estar feliz. Agradeço, no entanto, a compreensão – para mim isto faz sentido, agradecer - nem permito que a ansiedade ou a depressão me faça desrespeitar terceires – isto também me faz sentido.

Sinto-me sobrecarregada com responsabilidades: a casa, os animais, a universidade, a casa, a casa, a casa, os animais, os animais e os animais. Sinto-me sobrecarregada pela responsabilidade de assumir um posto de liderança (e só eu sei o quão ansiosa me deixa a posição de liderança). Não consigo continuar a exigir limpezas, organização, métodos de comunicação, iniciativa ou respeito. Não consigo e vou explicar a razão: não, não vou, não tenho que ter uma razão para não conseguir fazer coisas que não me são obrigatórias.

Tenho vários problemas, mas a ansiedade e a depressão não são dois deles, elas são doenças que depois me trazem problemas – mas são, antes de problemas, incapacidades hormonais e engenhocas que o meu corpo faz para que eu não seja feliz. A minha mãe diz-me para eu não ter medo visto que já experienciei que com um comprimido venço a depressão – no meu caso, é verdade. Quando tomei anti-depressivos fui feliz, expecto que engordei 25kg e isso mexeu indirectamente com a minha auto-estima, mas sim, a depressão foi adormecida.

Estou cansada de ter que me justificar quando não estou bem, quando não quero falar, quando repito que não quero falar, quando quero o meu espaço não apenas por uma hora mas por um mês. Não se passa nada – sou eu que sou doente e esta é a minha doença.

Coisas práticas: Sabe bem? Não. Quero acomodar-me? Nunca. Vou fazer o que consigo para me livrar disto? O que consigo, sim. E se não conseguir? Tento quando conseguir. E se não conseguir nunca? Não, eu vou conseguir, não quero o nunca aplicado a mim. E as pessoas que não compreendem? Não as quero na minha vida. E as pessoas que supostamente compreendem, mas depois são condescendentes? Não as quero na minha vida. E as pessoas que dizem compreender, mas atropelam os meus pedidos? Não as quero na minha vida. E as pessoas que não percebem a doença? Vou explicar. E se não quiserem perceber? Não as quero na minha vida. Isso significa que vou viver sozinha? Não, significa que felizmente tenho pessoas na minha vida que já me mostraram que me amam incondicionalmente – sim, estou a usar uma expressão super cliché, mas de forma racional – tenho pessoas que me amam incondicionalmente e entendem o que é amar. E o que é amar? É um conjunto de situações que passa pela ajuda, respeito e compreensão. Com ajuda quero dizer num todo – com as minhas doenças, com a casa, com os animais e com o meu espaço. Alguém me disse hoje que amar está nas outras coisas – não os bilhetes ou os “amo-te”, está em lavar a loiça e perceber que se dividem tarefas não por obrigação, mas por amor.

Não são muitos os dias nem são muitas as horas em que me lembro de mim num todo, mas quando acontece tenho a certeza de que vou conseguir atingir todos os objectivos que tenho – e isto sou eu a vencer as minhas doenças.

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