Uma casa; Um ninho.



Nunca quis ser uma menina grande, mas sempre quis ser uma grande mulher. Hoje sei que sempre fui uma menina grande e que me tornei uma grande mulher. Hoje sou abençoada pela certeza de que a minha gasolina é a tentativa de ser melhor. Sou grata pela inteligência emocional que é resultado da bagagem que carrego.
Recentemente a vida colocou-me à prova; recentemente o destino encarregou-se de testar toda a minha liberdade espiritual e a minha capacidade de colocar pontos finais. Sempre fui pessoa de vírgulas, sempre fui mais a favor de curtas pausas do que longos fins. Essa minha preferência, não apenas ortográfica, mas sobretudo bíblia dos meus dias, trouxe-me pontapés no estômago em vez de borboletas na barriga.

Os últimos dias foram dias de decisões, foram dias de dizer que chega e gritar que basta – e gritei, não é uma hipérbole. Durante um largo período de tempo percebi que o meu ninho, a minha casa, era Hotel ou Pensão – percebi que as responsabilidades não eram obviamente divididas, mas imploradas – caso contrário o ninho não tinha pássaros que crescessem. Os últimos dias foram dias de imposição – quero aves no meu ninho e quero asas para voar. Quero ajuda numa casa e iniciativa para amar.
O que recebi de tanto exigir amor – traduzido nas tarefas óbvias e no bonito gesto de ajudar – foram mentiras; meias-verdades; chantagem emocional e imposição de culpa. O ninho pegou fogo e a árvore adoeceu.

Os remédios da vida chegam com a forma de sons e cores ou então de sabores e gestos – os remédios da vida não chegam da violência emocional nem da falta de responsabilidade pelo que se pede para construir em conjunto. O meu remédio vem em forma de amor e nos últimos dias, amor-próprio. Numa outra altura da minha vida não conseguiria tomar rédeas e era a primeira a pegar no fósforo e atear fogo ao ninho; que se lixassem os pássaros e que eu me lixasse com eles. Hoje quero ver Vida – quero ver a poesia a transformar-se, a ter contornos de sabedoria – a sabedoria emocional, nunca o ego material ou o umbigo sujo de “eu sou a melhor” pois triste de quem se alimenta de calcar alguém.
A guerra aquando travada pela vontade de outres, a luta começada pelo desleixe e a falta de empatia, é a que eu não quis lutar. Este não foi um contracto que assinei – e este não é o final que se espera de amar. Desta vez – e pela primeira vez – exigi coisas, as que são minhas por direito: justiça. Quão hipócrita seria eu, que tanto luto pela justiça de outres, ficar calada, a chorar?

Vivo com a verdade de que trago dor e mágoa a várias vidas mas que nunca - nunca - pela forma de atropelar gente; ou recorrer ao sentimento de chantagear. 

Ai! Fui uma menina grande demasiado tempo – e por o ser, esqueci-me de que tinha que existir um pulo, esqueci-me que podia ainda subir de categoria e encher o peito de conhecimento. Hoje sei que sou uma grande mulher – por nunca ter recorrido às mentiras que movem o mundo; às chantagens que nos movem a nós. Recorro ao que tenho e ao que sei – que erro, que falho – mas sem pisar ninguém, muito menos utilizar a dor e o sofrimento de quem tanto amamos, para a justificação fácil de um dos mais comuns pecados mortais – a preguiça – e eu que achava que era pecado meu. Não – é feitio, mas não me mata e sobretudo: não matará algué(ns).  


Que o meu ninho sobreviva e que dele se libertem verdades.

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