Floresta.


               


Não devia estar a escrever de tanta dor que sinto. O que me vale, nesta vida, é que a dor é poética e as palavras são curativos. A cura é lenta e o vento acaba por levar os verbos, adjectivos a paciência e o amor.

Gosto de estímulo – gosto de estímulo intelectual e de quem me faz querer amar o que escrevo – quem escrevo.  Gosto da ideia de criar pessoas na minha cabeça e depois – como se uma rajada violenta me empurrasse – elas aparecessem. Reais. Quero a certeza de que a minha vida é liberdade e que a minha morte não será nunca arrependimento. Solto as asas e deixo as escamas me rasgarem o corpo, com a fé de quem voa e a beleza de quem nada.

Deixa-me dizer-te que não te imagino enquanto corpo, mas enquanto alma. Deixa-me contar-te que te registo como personagem de amor e nunca como escultura de casa. Deixa-me cantar-te que não o sei fazer como tu, mas que o meu espírito eleva de te ouvir. Deixa-me escrever-te – pois é só o que pretendo; é só o que quero.

Hoje fugiste – também eu fujo da realidade – a incerteza; o medo. A minha maturidade trouxe-me o querer permanecer; sermos autoras e capas de livros. Sermos o exemplo das milhentas formas de amar – mesmo as que o são longe; mesmo as fictícias – as intelectuais; elitistas.

Sorte a nossa de possuirmos dicionários no peito e talento nas mãos; pobres de nós se nos rebentarem o estômago, a sangue-frio e permitirem as borboletas fazerem casa noutras poetisas. Não somos Florbela; só Espanca – sobrenome da vida – nome próprio do não aproveitarmos o que nos faz crescer. Voar.  

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