Às de Copas
Dos medos que são nossos, vai ficando a eterna certeza de conquista. A minha armadura já não é a mesma e já se cheira a ferro, enferrujado. Nas inseguranças que são nossas, vai ficando a eterna certeza de perder. A minha cabeça já não é a mesma e já se sente o tremer no ondular dos cabelos. Consigo ouvir o roupeiro chiar, as portas que são música só se abrem na esperança de mais baús. Recordações. Em vez disso, espaços desocupados pelas palavras erradas – as horas erradas.
Tenho um génio que em nada é genial. Também ele enferrujado, que treme e se faz ouvir chiar. Os desejos? O básico – mas humilde. Baús. Amor. Coragem. Dele só vem pó, os desejos? O óbvio – utopias. Dentro deste roupeiro nasce um novo amor – daqueles que parece escapar entre os dedos. Daqueles que, hm, nos dá nós no coração.
Desço à Terra, mergulho no Mar, transformo-me em amor sem nunca me terem ensinado a amar. Desconfio de quem fala bem. De quem deseja bem. Aceito a imperfeição e seco as barbatanas. Os meus pés não são de gente e as gentes não são se não amor. Caminho chiando. Tremendo. Tenho a armadura enferrujada e no peito uma espada.
Vejo a beleza da vida nos baús que sonhei. No meu génio irreal. Na utopia de que existem pessoas que moram no nosso corpo para sempre.
- Era um copo de vinho e um baralho de cartas.
- E para comer?
- Oh senhor! E para amar?
Quando adormecer que seja assim – amarga na boca e com um Às de copas na mão.
Comentários