Ir.
Não sei quantas vezes se tem que aprender a deixar ir. Ou a ver partir. Não sei quantas vezes o coração passa pelo processo de aprendizagem do que é afastar – matematicamente – o que nos faz tanto sentido permanecer. Com todo o apoio. Com toda a falta dele. Só nós – únicos – sabemos o espaço que ocupa em nós reaprender a ida. A espera. A esperança. Quem sabe – a fé; o destino. De tantas vidas que vivemos e de tantas vezes que morremos, no já, no agora, gravamos a ferro quente que não vai acontecer mais – nunca mais. Acabamos a ser espalhos metafóricos e o queixo nunca pára de se partir – por se ver partir.
O amor que não substitui amor permanece. As gentes que não substituem outras gentes permanecem. Esse alívio são suspiros e continuações, são construções para a evolução e o azedo que fica, é das pausas destas manhãs. No ninho. Na cave. Na gruta. Morcegos cegos pela luz tão presente que é abraçar o tempo e dizer-lhe ao ouvido: Tem calma. A alma? Devorada por corvos famintos destes incidentes. Acidentes. Os bonitos – os que nos obrigam a crescer com muito apoio, ou nenhum. Dona das decisões e consciente das consequências, procuro-me achando-me nos querer ficar. Na rebeldia que é ser adulta e ainda assim me permitir cair. Levantar. Amar. Desamar. Doer – ver ir; ansiar o ficar.
Somos teclas onde pianistas escrevem as próprias composições. Assim, marionetas, que viram as costas a quem não percebe o que é falar. Comunicar. Marionetas de um sistema que nos faz desaprender o respeitar. Sussurro ao tempo: quanto tempo temos? E o vento lá me responde: eternidades. Então e o já? O agora? – o já, já passou e o agora é crescimento.
Todos os búzios me dão tréguas e me deixam ouvir o mar. Me deixam amar. Nem todo o mar concorda – nem todo o mar apoia, mas dona de mim – enquanto marioneta - escolho diferentes oceanos e neles encontro colo. Como sereia – como areia. Infinita no amor; ingénua no saber ver ir. As barbatanas fracas. A voz encrava. O piano, tão velho. Como as almas. Choro por dentro, pela saudade antecipada. Desesperada – mergulho. Se é para ser composição de outros músicos, que seja debaixo de água. Dentro de mim.

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