Asmas e fantasmas
Visitar o passado é um acto de coragem e de rebeldia. É uma decisão que quando é nossa, lá a abraçamos, quando é partida do Universo, trememos e morremos. Hoje vesti o fantasma que carrego ao colo. Vesti a dor de ter doído como nada nunca doeu. Despi o colete que apara as balas e - PUM PUM PUM! – Toda a cena de crime é densa e extensa. Grito alarmes, grito passados, grito viagens, grito bocados. Bombardeada por todos os espaços vazios do meu cérebro quente, aceno às hormonas – adeus! Lanço-lhes um laço branco, imploro paz. PUM PUM PUM! Três tiros vendidos ao Deus dará. Três tiros oferecidos pela ingenuidade de amar; colocando o cinto para a viagem interior, cinto – e sinto, não sentindo, que já não me sei dar. Que nada me pertence, o meu corpo não me pertence, a minha luz não me pertence, nem a voz me pertence. Falo por falar, clichês, como se fosse dona da vida, sem ser sequer dona de mim. A hipocrisia amarga, o fado azedo e o leite estragado. O rosto acabado, o rasto molhado e o resto doente. Personas. Zonas de desespero imediato. Onde a mente encontra o corpo e se envolvem – agressiva(mente). Nódoas. Manchas. Marchas. Mechas de cabelos que estiveram ao vento. Soltos. Solta. Sinto os pulsos ameaçados. O pescoço apertado. O peito acabado. Retiro os pontos traçados nas feridas expostas - maldisposta. Não tenho colete. Protecção. Projecção. Tenho esta incapacidade, vulnerabilidade, dois pés esquerdos – dança de salão. Visitar o passado é um acto de coragem e de rebeldia. É uma decisão que quando é nossa, lá a abraçamos, quando é partida do Universo, trememos e morremos. Hoje morri – morrendo. Matando-me. Doendo.
(Silêncio,
sou a beleza da ausência!)
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