Viagens e o dinossauro na sala: ansiedade

                                                                         Atlanta - USA


Pediram-me para partilhar a minha experiência no que diz respeito à ansiedade e como viajo acompanhada por ela. Existem coisas que nem todas as pessoas têm acesso e essas são as mais cruciais para que eu consiga viajar.

Estar acompanhada por quem me respeita e me apoia sempre que estou pior. Alguém que me acalme e me diga: podemos parar, o tempo necessário, até ficares melhor. Viajar com as pessoas indicadas é para mim essencial, o meu melhor sos.

Saber que o que deixo, temporariamente, no sítio que é casa, fica bem entregue. Uma das coisas que me deixa mais ansiosa é deixar os cães, é a limpeza da casa, é não estar presente se algo grave acontecer, é ter a certeza que não vai acontecer nenhum desastre enquanto estou fora. Claro que coisas drásticas e repentinas não se podem prever, mas a minha ansiedade perde forças quando sei que tenho quem ame os meus cães, cuide da casa e sobretudo, me comunica caso algo aconteça enquanto estou fora.

Estes dois pontos são os que me permitem viajar sem fortalecer a ansiedade, no entanto são bastante relativos. Eu sou super privilegiada por poder dizer que ambos os pontos estão presentes e que desejaria que assim fosse com todas as pessoas.

Existem depois pequenas coisas que fazem em mim toda a diferença. Essas são:

Ter a viagem planeada. Saber onde vou, quando vou. Mesmo coisas pequeninas como onde vou almoçar ou que livro vou ler no tempo morto. A ideia de não planear deixa-me extremamente ansiosa. Acontece (curiosamente aconteceu hoje) - por alguma razão os planos se alterarem. No caso de hoje, o sítio onde íamos jantar tinha uma espera de 40 minutos, incompatível com os nossos planos para o resto da noite. Tivemos que escolher outro sítio e a minha ansiedade ficou tão forte que me tornei desfuncional. Isso inclui eu nem sequer conseguir escolher o que queria comer. Aqui tive que recorrer ao ponto número um deste post – ajuda. Verbalizar é o truque para acalmar o bicho. Expliquei que não estava a conseguir sequer decidir algo que é, à partida, tão simples. Carol escolheu por mim. Assim que a minha ansiedade entendeu que eu não ia agarrar na minha mala e voltar para o hotel, deu-me uma pausa e permitiu que jantasse feliz, tranquila.

A respiração. Cliché, eu sei. Quando começo a ficar acelerada, tento concentrar a minha atenção na minha respiração, nas cores e nos cheiros que me rodeiam. Essas três coisas geralmente destraiem o meu cérebro e quando dou por mim, a ansiedade enfraqueceu e eu estou a pensar em outras coisas.

Momentos a sós. Abrir a janela e ficar a olhar para a cidade onde estou; tomar um banho prolongado; sentar-me num banco de jardim e, caso esteja acompanhada, pedir silêncio. Este silêncio é aproveitado por mim para sentir gratidão. Contemplo e agradeço a oportunidade. Repito várias vezes que é um momento de privilégio conhecer mais.

Não sei até que ponto os meus truques funcionam com vocês, mas espero que sim. Não esquecer que a maior ferramenta para viajar, em paz, é não desistirmos de o fazer. Mesmo quando dói muito, levar o plano para a frente e concluir a viagem, enfraquece tudo o que nos diz: não vais conseguir. Não é fácil – na minha cabeça, antes de qualquer viagem, penso em mil e uma desculpas para dizer que não vou, que não dá para ir. Imagino o quão descansada estaria se nunca tivesse concordado. Já perdi imenso dinheiro em bilhetes que nunca usei, hotéis que nunca fiquei, só por causa da ansiedade. E é okay. Se não conseguir, irei conseguir numa próxima vez. No entanto é inegável que quando vou, mesmo com medo, regresso a casa e me sinto mais forte, mais inteligente, mais empática, mais rica emocionalmente e com uma percentagem – mesmo pequena – da minha saúde mental melhor.

Já viajei sozinha, Oslo, no pico da minha depressão - uma loucura. A loucura que me salvou. Não existiu ansiedade, tristeza - existiram momentos de medo, medo da ansiedade, medo da tristeza - mas estive sempre tão ocupada comigo própria, com os museus que eu ia ver. Os meus pensamentos. A minha companhia. Resultou na resolução de imensos problemas pendentes. Tempo para nós é assustador - mas é também - geralmente - uma bonita solução. 

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