A morte do Chester Bennington é também nossa
Fotografia cortesia de Eduardo Guerreiro
Chester Bennington, vocalista dos Linkin Park,
suicidou-se. Pareceu fria e crua esta forma de começar um artigo? Foi
intencionado.
I wanna heal, I wanna feel what I
thought was never real / I wanna let go of the pain I’ve felt so long
Sempre que quero escrever um artigo questiono-me se esse
será proveitoso para o crescimento individual. Raramente escrevo sobre temas
que afectam todas as pessoas. O meu registo não é o de jornalismo musical,
embora já tenha sido, o meu registo é direcionado a minorias. Hoje não – hoje somos uma maioria – a maioria que viveu
os anos de glória de Linkin Park.
I'm tired of being what you want me
to be / Feeling so faithless, lost under the surface
A morte do Chester é também nossa – é a morte de uma
banda, de concertos que arrepiaram, de uma voz inconfundível e é, sobretudo, a
morte de diferentes gerações. Temos vindo a perder artistas maravilhosos mas
confesso que devido ao ano em que nasci não acompanhei a carreira de muitos deles.
Esta acompanhei, com os seus defeitos, com os seus altos e baixos, com a sua
luz e a sua capacidade de chegar a tantos públicos diferentes. É por isso que
me dói. É por isto que me dói – por sentir que isto também me pertence, que
também me pertencia e que me abandonou. Sinto-me desamparada e a culpa não é do
Chester, a culpa é da falta de sensibilização para as doenças que tomam conta
de nós. A culpa é do suicídio. A culpa é da sociedade que ignora as pistas, os
detalhes e que acaba a ser mais um empurrão para o precipício.
When my time comes / Forget the wrong
that I've done / Help me leave behind some / Reasons to be missed
Considero todas estas pessoas como mestres. A sua partida
nunca é em vão, a sua partida é muitas vezes uma forma de nos fazer abrir os
olhos, de nos fazer progredir – de nos fazer acordar. Todas as pessoas que
perdemos para o suicídio, são mestres e por isso estou-lhes inteiramente grata.
O Chester foi abusado em criança, mesmo amado o resto da
sua vida por plateias cheias, a dor permanecia, como ele próprio dizia. O
Chester foi aplaudido por milhões de pessoas mas foram poucas as que o
abraçaram. Como é que eu posso afirmar isto? Por saber que a sociedade não está
preparada para levar a sério o desespero individual. É um mal comum que afecta
estas pessoas que nos trouxeram as nossas músicas favoritas – mas que também
afecta outras, anónimas, que quem sabe não iriam trazer outras coisas maravilhosas
para gerações futuras.
Fuck this hurts, I won't lie /
Doesn't matter how hard I try
O meu irmão mais velho ofereceu-me Linkin Park e mesmo
sem essa consciência, ofereceu-me o apoio incondicional da voz de uma banda nos
meus dias de tamanha solidão. Dos meus 12 anos até aos 14 anos eles foram a
minha salvação. Depois dos 14 anos continuaram ao meu lado, como melhores
amigos, como companhia para qualquer coisa, não eram precisos pretextos. O meu
irmão ofereceu-me aconchego quando a vida parecia querer expulsar-me. Eu não
sei o que é que Linkin Park ofereceu ao meu irmão e aos restantes da sua
geração mais velha que a minha, sei, no entanto, que quando eu me unia a ele,
nós, um plural de gerações tão singulares, trazíamos a voz a gritar mais alto e
fomos Numb, Breaking the Habit, Shadow Of The Day, Somewhere I Belong – fomos a
perfeita ligação nunca imaginada devido a todas as nossas diferenças.
Linkin Park era playlist de quem gostava de
pop, rock, metal, house ou hip-hop. Linkin Park juntou-nos e agora é a altura
de devolvermos essa dádiva tão bonita. É a altura de nos juntarmos,
independentemente das nossas diferenças - e respeitarmos as razões para os
próximos anos não terem Faint ou Bleed It Out. Chegou o momento de abraçarmos o Chester –
não, não vamos tarde, se abraçarmos o Chester estamos a prevenir perdermos
tantos talentos, tantas vidas e tantas possibilidades. Se ouvirmos Linkin Park
e nos lembrarmos que a depressão ganhou, ali, talvez consigamos mudar o mundo e
abraçar também quem ainda não partiu.
I start again / And whatever pain may
come / Today this ends / I'm forgiving what I've done!
Eles ofereceram-nos a união de gerações tão diferentes –
tão iguais; vamos-lhes oferecer a aprendizagem – a dor de ficarmos a sós, por
termos permitido que a solidão também lhes fosse colo.
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