Des.Venturas Desta Vida





Tenho alguma dificuldade em aceitar que um país, um continente e até mesmo que o mundo decida acordar, todos os dias, com ideologias que têm como base o ódio. Tenho uma forma muito ingénua de olhar para aquilo que está a acontecer. A extrema-direita não está a crescer, não se enganem, as pessoas estão simplesmente mais e mais confortáveis em expressar aquilo que defendem. Podia focar-me em características políticas e históricas, relatos de um país que lutou contra o fascismo em tempos que parecem anteontem, mas prefiro focar-me no amor. Escrever tem disto, agarrar no amor e esfregá-lo na cara de qualquer pessoa.

 

Decidir que as pessoas negras, decidir que os ciganos, decidir que as lésbicas, os gays, bissexuais e pessoas trans não merecem espaço, não merecem existir, é ódio sim, não é opinião, é ódio por representar ausência de amor. Estamos a atravessar uma fase em que a fraca saúde mental tem impacto em cada pessoa, para umas isso representa uma necessidade de procurar ajuda e procurar ajudar, para outras isso representa uma necessidade de apontar culpados. A guerra já começou e o meu lugar de fala a mim me pertence, independentemente de existir quem acredite que o medo é mordaça.

 

É de uma hipocrisia extrema existirem pessoas que me rodeiam, que me conhecem enquanto mulher lésbica e me esfregam desaventuras na cara mascarando-o de amor, de preocupação pela nação. É de uma hipocrisia extrema existirem pessoas que dizem que esta luta é uma luta por um país melhor, mas que são incapazes de apontar o dedo às condições precárias do país, que são incapazes de se juntarem a manifestações pela luta de condições de profissionais de saúde, condições no ensino público ou até mesmo protestos da esfera social – sermos de igual para igual. A vossa preocupação pela nação é uma merda de pretexto para serem livremente más pessoas.

 

Ao contrário do que diz o politicamente correcto, não tenho nem quero aceitar todas as opiniões a partir do momento em que elas interferem directamente com a segurança, bem-estar e felicidade de qualquer ser-humano. Ao contrário do que diz o politicamente correcto, existe sim o lado certo da história, bem como existe o lado errado. Imagino que viver em constante ausência de amor seja doloroso, mas mais doloroso é sermos, enquanto empatia, enquanto bondade, enquanto pessoas que amam e isso poder ser suficiente para a rua deixar de ser nossa.


Este conceito de nação é uma máscara fraca e mesquinha, mas que tem consequências reais, palpáveis – peitos que param, mãos que tremem e vozes que se calam. Desconheço os valores base de cada pessoa que se levanta de manhã e escreve na agenda “a minha existência é superior a qualquer outra”, também não tenho pena ou compaixão. A única coisa que sinto relativamente a cada um de vocês que está do lado errado da história, é uma tristeza profunda. Acordar sem amor e ir dormir sem amar, é carregar nas costas uma mísera vida, que de vida até tem pouco.

Para quem sobra, para quem sobrevive, que se lembrem – sobrevivemos e vivemos em luta, mas dormimos em camas de amor, mais que não seja por amarmos quem somos, aquilo que representamos e todas as outras formas de existência. Resistência.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Uma surpresa que vos trago

‘Independence Day’ – Not!